O
cão é um animal que tem carências nutricionais diferentes das nossas, por isso
sua dieta deve ser direcionada a atender essas necessidades. Quando alimentamos
os cães com comida caseira, na grande maioria das vezes (quase sempre), não
promovemos uma nutrição adequada. Por mais "sem graça" que possa
parecer, a ração é, nesta maioria dos casos, a melhor opção. Por quê?
Podemos dar alguns argumentos favoráveis
ao uso de ração ao invés de comida caseira:
1. NECESSIDADES DO CÃO - Por mais variada que
seja a comida do Rex, não conseguimos oferecer-lhe uma dieta completa e
balanceada. Mesmo dando carne, legumes e ovos, ainda assim não conseguimos
balancear esta ração; e macarrão, arroz e fubá não são comida de cachorro.
2. A PRATICIDADE - Hoje em dia poucas pessoas têm tempo para fazer
seu próprio almoço, muito menos a comida do cachorro. Para comprovar, basta-se
observar que as vendas de comida congelada e desidratada têm aumentado de
maneira significativa.
ONDE ESTÁ A DIFERENÇA?
Nossos
amigos peludos têm sua origem em outros canídeos selvagens, como os lobos, os
chacais, os cachorros-do-mato... Estes animais, em vida livre, alimentam-se
basicamente do que conseguem caçar ou, mais freqüentemente, das sobras de
outros predadores (leões, leopardos...). E foi por este hábito que, os cães
primitivos, se aproximaram dos homens primitivos, visto que o homem sempre foi
um caçador até aprender a plantar e colher. Quando um canídeo se alimenta, come
a carne, o pelo, a pele, os ossos, as vísceras e até o conteúdo intestinal das
presas. E, respondendo à pergunta, o bom e velho Rex, precisa de uma dieta tão
variada quanto a de seus parentes de vida livre, para que tenha uma vida
saudável.
O QUE COMPRAR?
No
Brasil, hoje, temos diversos tipos de ração com qualidades diferentes. Para
facilitar o entendimento, vamos classificá-los em três grupos.
a) Rações
Populares - São produtos mais
baratos que existem no comércio. Normalmente, formuladas com subprodutos de
milho, soja, farelo de algodão, etc. Tais ingredientes na ração de uma vaca, ou
de um cavalo, seriam de excelente digestão, mas, voltando àquela historinha,
nosso amigo é um carnívoro e precisa de proteína de origem animal, pronta a ser
assimilada pelo seu organismo.
OBS.: Os vegetarianos de quatro patas têm
a capacidade de transformar proteínas e carboidratos de baixa qualidade em
"produtos mais nobres". Os cães e gatos precisam dos produtos nobres
já prontos.
b) Rações
"Standard" - São produtos de empresas de renome, na maioria das vezes, buscam
através da mídia uma fatia maior do mercado consumidor. Por serem produtos de
empresas maiores, têm um compromisso maior com a sua qualidade e são formuladas
com ingredientes qualitativamente melhores que as rações populares. Contêm
farinha de carne e ossos, glútem de milho, gordura animal, etc. Porém ainda não
são "ideais" quanto à digestibilidade, porque se alcança o percentual
de proteína com ingredientes de menor digestibilidade como a soja ou o glúten.
Quanto ao custo, estão numa faixa intermediária de preços.
c) Rações Premium e Super Premium - São produtos de primeira qualidade, em nutrição
canina, por isso mais caros. Têm sua formulação baseada em carne de frango,
ovelha, peru... Porém, realmente carne, ou resíduos de abatedouro, como
digestas de frango por exemplo. Tais ingredientes, de origem animal, têm maior
digestibilidade, ou seja, o trato digestivo canino tem menos
"trabalho" para metabolizá-los. Esta é outra característica das
rações premium, como a digestibilidade é maior, o consumo diário de ração é
menor (o que ameniza o preço da ração). Promovem, ainda, uma vida mais
saudável. e reduzem o volume das fezes do animal.
As
Rações super premium são assim classificadas a partir de um certo percentual de
digestibilidade, o que pode variar de acordo com os interesses dos fabricantes,
pois não há um "padrão" neste sentido. Como consumidor, para saber se
a ração é de alta digestibilidade, ou não, basta analisar na embalagem os
ingredientes que compõem a ração. As fontes proteicas devem ser de origem animal
(carne de frango, carne de peru, digestas de frango, carne de ovelha, ovos,
etc.). E as fontes de gordura também, ou pelo menos óleos vegetais nobres como,
por exemplo, óleo de linhaça. Fontes proteicas vegetais como soja, glúten, etc.
não têm alta digestibilidade. É bom desconfiar de produtos que têm em sua
relação de componentes coisas como "carne de aves" (urubú também é
ave / e de que parte da ave estão falando? Pena e bico são proteína pura e de
baixíssima digestibilidade). O que pode aumentar a digestibilidade da ração é a
presença de fibras de moderada fermentação (p.ex. polpa de beterraba branca),
que aumenta a eficiência absortiva dos enterócitos. Outro ingrediente que
melhora a digestibilidade são os F.O.S. (fruto oligo sacarídeos), que alimentam
a microbiota intestinal, ou seja, beneficia o crescimento de "boas
bactérias" no intestino, o que leva a uma melhor fermentação do bolo
alimentar.
Resumindo, quando compramos uma ração para o
amigo peludo, devemos estar atentos aos níveis de garantia (percentuais de
proteína, gordura, etc. ) e a qualidade dos ingredientes. Por exemplo, uma
ração para cachorro deve ter, no mínimo, 18% de proteína. O que é relativo
porque carne é fonte de proteína e pena da galinha também. Carne é bem mais
digerível que pena. Outro detalhe é o equilíbrio entre percentuais de proteína
e gordura. Não é eficiente uma ração com 30% de proteína e 8% de gordura, nem
outra com 18% de proteína e 20% de gordura.
Um
quarto grupo de rações pode ser citado, as rações terapêuticas. Têm indicação
clínica sendo auxiliares no tratamento de diversas enfermidades. Seu uso deve
obedecer aos critérios do Médico Veterinário responsável pelo cão.
ALGUNS CONSELHOS
- Cadelas gestantes devem comer rações de filhote
a partir do 30º dia até o fim da lactação. Esta prática reduz a chance de
ocorrerem problemas futuros com a cadela prenhe.
Além de aumentar sua vida reprodutiva.
-
Os filhotes devem comer ração de filhote até atingir o tamanho adulto (o que
varia de raça para raça )
-
Cães de raças grandes devem receber dieta adequada, sem exageros, para um
crescimento equilibrado e uniforme. Uma dieta reforçada demais pode trazer
problemas de "calcificações indesejadas" no futuro.
- Os cães precisam de abrasão para
seus dentes, portanto ofereça o que ele possa usar para isso. Esta
medida é profilática a formação detártaro,
o que pode causar até a morte de seu cão. Por exemplo: o cão deve ter
cotidianamente um osso,
ou um brinquedo rígido, ou qualquer outro artifício para "escovar"
seus dentes. Esta necessidade diminui à medida que o cão se alimenta apenas e
tão somente de ração seca.
- Evite oferecer ao Rex petiscos do tipo: biscoito humano,
pão, chocolate, pipoca... mesmo que ele goste muito. Estes alimentos estão
freqüentemente envolvidos em casos de alergias alimentares, assim como
macarrão, fubá e outros alimentos à base de amido. Essas alergias alimentares
têm quadros variados que vão de simples coceira até feridas na pele e febre.
-
A oferta de carne somente pode levar o cão problemas de raquitismo nutricional
por causa do desequilíbrio entre Cálcio e Fósforo que ocorre em animais com
este tipo de dieta.
-
Uma ração de qualidade comprovada, preferencialmente as do tipo
"premium", dispensam qualquer outra suplementação mineral ou
vitamínica. E se for seca reduz a incidência de tártaro, dispensando, por
vezes, o uso de abrasivos.
-
Seu cão dificilmente enjoa da ração, simplesmente ele está satisfeito e não
quer comer. Se ele está brincando normalmente, com sua vitalidade natural e
ficar um dia ou outro sem comer não se assuste, permaneça oferecendo a mesma
ração que você conscientemente escolheu para ele.
-
Não existe ração ideal para todos os cães. Cada animal reage de uma maneira
diferente. Tem cães que se adaptam perfeitamente a rações populares e outros
que não se adaptam às super-premium. Por isso, a melhor pessoa para orientar
sobre qual é a melhor opção de ração para cada cão é o médico veterinário que
acompanha sua saúde. Ele é capaz de avaliar os parâmetros corretos e saber se a
dieta é satisfatória para cada cão especificamente.
Guilherme Soares
médico veterinário
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